A boa surpresa de 2010 foi a qualidade da produção brasileira em quadrinhos. A longa estrada dos quadrinhos no Brasil continua sendo percorrida e ainda há muito a ser trilhado.Esta trilha passou por diferentes aspectos nesta década inicial do século 21.Das editoras tradicionais à venda delas. Das poucas às muitas pesquisas. Dos super-heróis à esmagadora presença dos mangás. Dos jovens aos adultos.
Da quase ausência dos quadrinhos no ensino para a inclusão em gordas listas governamentais. Do espaço raro na grande mídia e para as reportagens recorrentes.Do comercial ao independente.
Do papel para a internet. E da internet de volta para o papel.
O que este ano e o passado parecem sinalizar é que a ida para o computador retorna na publicação em papel. É como um bumerangue. Arremessado, volta ao ponto de origem.
A prova disso esta nesta lista com 10 ótimas indicações para quem adora um bom quadrinho
Confira o melhor que chegou nas bancas, nas livrarias e até no iPad.
MELHOR MAIS DO MESMO : NOTAS SOBRE GAZA, de Joe Sacco (Quadrinhos na Cia.)
A cada nova reportagem em quadrinhos (desta vez, uma pesquisa sobre um incidente de 1956 na faixa de Gaza), Joe Sacco reafirma seu talento para fazer algo que, por coincidência ou não, enxerga de um jeito diferente aquilo que todo mundo está olhando.
MELHOR ANTOLOGIA DEFINITIVA: AS COBRAS, de Luis Fernando Veríssimo (Objetiva)
MELHOR POESIA VISUAL: ÉDEN, de Kioskerman (Zarabatana Books)
Tirinhas da Mafalda e Liniers à parte, os quadrinhos argentinos nunca foram muito populares no Brasil. Kioskerman é parte da nova geração que chega para quebrar essa sina. Com seu traço elegantemente ingênuo, o maior feito do livro é fazer poesia sem soar piegas.
MELHOR CINEMA MUDO: TAXI, de Gustavo Duarte (Independente)
Sem usar palavra nenhuma, Gustavo mostra um passeio noturno surreal por uma São Paulo alagada, onde tudo pode acontecer. Sem as limitações das charges de jornal que o tornaram conhecido, o desenhista mostra todo o seu domínio da linguagem dos quadrinhos.
MELHOR DIVERSÃO: SCOTT PILGRIM CONTRA O MUNDO, de Brian Lee O’Malley (Quadrinhos na Cia.)
A overdose pop tinha tudo para desandar: mangá, videogame, rock e pós-adolescentes com conflitos amorosos. Mas, apesar das referências, acaba sendo a história bem realista de um jovem meio esquisito e desleixado, mais pra Bart Simpson que pra Michael Cera.
MELHOR REESTREIA DIGITAL: SÁBADO DOS MEUS AMORES, de Marcello Quintanilha (Conrad)
Lançado em papel ano passado, é o primeiro álbum brasileiro no iPad. E bota brasileiro nisso: futebol, jangada, cirquinho do interior e até bolão de loteria aparecem nesses contos (graphic stories?) que parecem curtas. Cante seu subúrbio e cantarás o mundo, diz o ditado.
MELHOR PROVA DE QUEM NÃO PRECISA PROVAR NADA: MUCHACHA, de Laerte (Quadrinhos na Cia.)
Um homem veste-se de mulher e conhece o maior sucesso de sua carreira. Não, não estamos falando do Laerte – que nem precisava de crossdressing para ser elogiado por essa obra de narrativa complexa e cheia de camadas, mas ao mesmo tempo fluida e divertida.
MELHOR PROMESSA CUMPRIDA: CACHALOTE, de Daniel Galera (texto) e Rafael Coutinho (arte) (Quadrinhos na Cia.)
O álbum mais esperado e pré-divulgado do ano justificou o hype. O desenho de Coutinho é excelente e, se um escritor corria o risco de transformar a HQ em livro ilustrado, Galera consegue o contrário: boa parte da narrativa se concentra em ação e elementos visuais.
MELHOR AUTOBIOGRAFIA: MEMÓRIA DE ELEFANTE, de Caeto (Quadrinhos na Cia.)
Lá fora um gênero saturado, aqui no Brasil quadrinhos autobiográficos são raros. Mais rara ainda é a franqueza do autor com sua própria história, incluindo aí amigos reais. Apesar da inevitável carga emocional do tema, a história de Caeto é pontuada de reflexões hilárias.
MELHOR PERDA DE AMIGOS SEM PERDER A PIADA: MUNDINHO ANIMAL, de Arnaldo Branco (Leya Cult)
Blogueiros pedantes, críticos frustrados, cineastas fracassados e assemelhados compõem a fauna de Arnaldo Branco. As cenas toscamente desenhadas são tão diretas e realistas em retratar o nosso tempo que o que impressiona mesmo é ninguém ter pensado nisso antes.
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